segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

MOVIMENTO FLUIDO

“ Partindo do que sabemos para o que não sabemos, para o que parece que nunca poderemos saber totalmente...filosofamos contra o que sabemos...repensando e questionando o que acreditávamos já saber. Então nunca poderemos tirar nada a limpo? Sim, quando pelo menos conseguimos orientar melhor o alcance de nossas dúvidas... Quem não for capaz de viver na incerteza fará bem em nunca se pôr a pensar”.                             Fernando Savater
Pós-Modernidade – 2ª Modernidade – Sobremodernidade -  
 Modernidade Fluida  - Modernidade Líquida: que assunto é esse?

São apenas impressões sobre o que vem a ser a modernidade líquida de Bauman, mais especificamente no que diz respeito aos conceitos de tempo e espaço. Procuro indagações sobre o papel da escola dentro de uma concepção contemporânea. O texto nos traz provocações para nos fazer pensar e traçar um olhar sobre o outro. No entanto, somos instigados a ter “um outro olhar” não mais nas perspectivas modernas, construído de um único ponto de vista. Bauman pontua que “tão importante quanto adquirir novos conhecimentos está a capacidade de desaprender” e pauta-se na ideia de desconstrução de tudo que se tinha como parâmetro até então. Desta forma desestabiliza certezas e questiona o que é convencional, como a noção do tempo/espaço. Critica a visão eulógica (elogio) de uma cultura marcada pelo capitalismo, sendo a ordem da dominação fundadora de uma razão universal, totalitarista (visão política-econômica). Seria a ideia de conspiração, ou seja, de que tudo é intencionalmente arquitetado?  Responde: “A desintegração social é tanto uma condição de domínio quanto um resultado da nova técnica do poder que tem como ferramentas principais o desengajamento para que o poder tenha liberdade de fluir”.
Esta modernidade líquida é a  'pós-modernidade', mas este “pós” não pode ser visto como uma ideia de ultrapassamento, mas de ruptura. O termo intenciona desconstruir e confrontar a lógica estabelecida até então. É a época em que tudo tende, pela comunicação, a nivelar-se no plano da simultaneidade, por isso a pós-modernidade adquire um sentido ligado ao ato de vivermos numa sociedade de comunicação generalizada. Então esta modernidade líquida é a fase mais recente da era moderna, a contemporaneidade. É o fenômeno da fluidez das coisas onde se valorizam o temporário em detrimento do permanente (onde nada é sólido ou conserva a forma por muito tempo). Ela relaciona-se com a globalização, como resultado do sistema capitalista onde a economia tornou-se principal parâmetro para a sociedade. É a expressão da sociedade de consumo onde as pessoas buscam sua identidade naquilo que consomem. E a superação da essência do ser pela capacidade de ter.
Nessa sociedade líquida houve grande fragmentação do individuo, pois age na heterogeneidade. A noção de temporalidade e territorialidade é afetada, seu conceito é ressignificado num novo patamar de relações. Com o advento da internet as noções de territorialidade são abaladas, há uma compressão do espaço e a aceleração do tempo. Hoje o mundo inteiro está conectado o que traz uma série de consequência para a sociabilidade. A condição social atual houve a fragmentação da vida humana, sociedades individualizadas, busca criar sua própria identidade em constante redefinição devido as constantes mudanças. Todas estas transformações vão gerar um mundo de incertezas. A era da esperança (no desenvolvimento trazido pelas máquinas) gerou um mundo de incertezas. Apenas se sabe que vivemos num mundo interdependente, ou seja, todos dependem uns dos outros, somos influenciados pelo destino e caráter e buscamos equilíbrio para a ambivalência da vida: ou se tem segurança ou liberdade. Há ainda a condição do individuo: problema da autonomia individual, o medo das massas, e o paradoxo das redes (são os laços construídos depois de você) superando o conceito de comunidade (aquilo que vem antes de você). E sem dúvidas estamos vivenciando um momento em que a inversão de valores é perceptível por qualquer pessoa. Nesta modernidade fluída os sólidos que estão derretendo “são os elos que entrelaçam as escolhas individuais em projetos e ações coletivas, os padrões de  comunicação  entre as políticas de  vida  conduzidas individualmente e as ações de coletividades humanas de  outro”.
Tudo mudou quando a distancia numa unidade de tempo passou a depender da tecnologia, de meios artificiais. O tempo perde seu sentido cronológico, os alunos fazem simultaneamente várias ações, podem ver uma palestra enquanto enviam mensagens no celular, confirmam solicitações de upgrade, lancham e falam com o colega ao lado. A velocidade do movimento chegou ao seu limite, se reduziu à instantaneidade. A escola é este espaço onde as individualidades acontecem em meio à heterogeneidade. Na rede são todos internautas, há a ausência de diferença, o sentimento de que somos todos semelhantes. Não precisam refletir sobre que espaço que ocupam, apenas estão no cyberespaço, no espaço de todos. Não estará a escola permitindo estes desencontros de que fala Bauman, onde “estranhos tem a chance de encontram estranhos em sua condição de estranhos”, sem troca de informações, sem lembranças compartilhadas sem memórias, apenas como um evento passageiro? Apenas estão demonstrando um grau de civilidade, mas sem interagir de fato? Na internet o aluno tem a real sensação de fazer parte de uma “comunidade”, o que a escola não faz para que tenham o sentimento reconfortante de pertencimento. Hoje os alunos sofrem uma dicotomia entre a sua comunidade escolar e as redes. Lá fora se mantêm conectados, mas na escola parecem fazer parte de um mundo distinto do que vivencia. Fica a pergunta: até que ponto escola está se tornando um “não-lugar”, ou seja, um espaço vazio, desprovido de significado? Um espaço destituído de expressões simbólicas de identidade, relações e história?

Por hora, apenas uma reflexão de que estes novos estudos vão fomentar nossas ideias para a pesquisa na prática, na compreensão que cada um tem um papel social público que reverbera nesta sociedade ainda chamada de moderna, mas num olhar pós-moderno.  Enquanto o sociólogo Baunman nos surpreende ao 'desmanchar' conceitos que para nós pareciam sólidos, aceito a dúvida como desencadeadora do princípio de um processo crítico. Refletindo sobre a linguagem constantemente impactada pela comunicação de massa e é neste contexto que os professores estão inseridos, reconhecendo que a escola não é o único lócus onde ocorre o conhecimento, a linguagem é transdisciplinar e que a noção de tempo-espaço está sendo desconstruída no ciberespaço. Esta nova ordem social e cultural não seria possível sem a revolução nas comunicações e nela não podemos entender o ser humano, o mundo, a vida, fora de sua temporalidade. Ao dar sentido ao mundo (sua contemporaneidade), a compreensão humana o enxerga na sua continuidade em que o presente dá sentido ao passado e projeta o que pode vir-a-ser.

Um comentário:

  1. Muito bem Dorinha,
    vc lança ótimas perguntas para pensar a escola e a educação de hoje. Vamos ter muito sobre o que refletir nesse bloco temático...

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